Ipece mapeia desigualdades territoriais de renda em Fortaleza com base no Censo 2022
5 de agosto de 2025 - 15:42
Dentre os 121 bairros de Fortaleza, distribuídos em 12 Secretarias Regionais (SERs), as maiores concentrações de rendimentos estão na SER II, SER VII e SER XII, cujos bairros estão localizados ao leste e sudeste da capital (regiões caracterizadas por infraestrutura urbana consolidada e maior dinamismo econômico), com valores médios de, respectivamente, R$ 6.916,79, R$ 6.278,55 e R$ 4.177,98. Em contraposição, os menores valores foram observados nas SER V, IX e I, com rendas médias inferiores a R$ 2.000,00. A SER V, localizada a oeste de Fortaleza, possui o menor valor entre as 12 regionais, com R$ 1.459,13, seguida pela SER IX (R$ 1.685,98) e SER I (R$ 1.865,79), todas associadas a áreas históricas de ocupação periférica e maior vulnerabilidade social.
A revelação – e muitas outras – estão no Ipece/Informe (Nº 272 – Julho/2025) – Desigualdades Territoriais de Renda: Evidências dos Bairros de Fortaleza a Partir do Censo Demográfico 2022, que acaba de ser publicado pela Gerência de Estatística, Geografia e Informações (Gegin) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). O estudo foi tema da quinta ediação do Ipece em Destaque, realizado pelo Instituto na tarde de hoje (05). A análise é realizada em diferentes escalas geográficas, abrangendo as 12 Regionais Administrativas, os 121 bairros e os 4.408 setores censitários da capital cearense.
O trabalho avalia o indicador do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados, desagregado por regionais e bairros, conforme os limites político-administrativos definidos pela Prefeitura de Fortaleza e utilizados pelo IBGE no Censo Demográfico de 2022. O objetivo do estudo é gerar um diagnóstico para identificar padrões espaciais de renda e oferecer subsídios para políticas públicas mais focalizadas territorialmente às desigualdades internas da cidade.
Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados segundo regionais de Fortaleza – 2022
Quando comparadas à média da cidade de Fortaleza (R$ 3.084,07), apenas cinco regionais detiveram valores superiores: SER II, VII, XII, IV e VI. As demais sete regionais encontram-se abaixo da média da capital, o que reforça a heterogeneidade socioeconômica do território fortalezense e evidencia desigualdades regionais entre as distintas áreas administrativas da cidade. De acordo com o analista de Políticas Públicas do Ipece, Cleyber Nascimento de Medeiros, um dos autores do documento, a disparidade entre as Regionais é expressiva: o valor médio da renda dos responsáveis na SER II é 4,7 vezes superior ao registrado na SER V, que apresenta o menor rendimento entre as 12 regionais.
O trabalho, nesse contexto, mostra um padrão relativo elevado de renda nas áreas mais consolidadas e urbanizadas da capital, enquanto as regiões periféricas, mais densamente povoadas, possuem menores rendimentos médios. Esse cenário pode sinalizar um maior grau de vulnerabilidade social nessas áreas e reforça a necessidade de direcionamento de investimentos públicos e políticas com focalização territorial.
Vale destacar que embora algumas regionais apresentem os menores valores de rendimento, todas registraram renda média da pessoa responsável pelo domicílio superior ao salário mínimo nacional vigente em 2022 (R$ 1.212,00).
MAIORES E MENORES RENDAS
Cleyber Nascimento observa que a análise por bairros detalha as desigualdades internas das Regionais, oferecendo subsídios para políticas com maior precisão territorial. Dentre os 20 bairros com maiores valores (nominal) de renda média mensal em Fortaleza, no ano de 2022, os destaques foram o Guararapes (R$ 14.775,21), Cocó (R$ 13.372,43), De Lourdes (R$ 12.383,27), Meireles (R$ 12.148,10), Aldeota (R$ 10.572,06) e Dionísio Torres (R$ 10.489,85). Todos esses bairros estão localizados nas Regionais II e VII, porções leste e sudeste da cidade, reconhecidas por sua infraestrutura urbana consolidada, padrão construtivo verticalizado e presença de comércio e serviços especializados.
Os 20 bairros de Fortaleza com maiores valores do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados – 2022
Já com relação aos bairros com menores rendas médias, todos com valores inferiores a R$ 1.600,00, os cinco primeiros são: Genibaú (R$ 1.272,25), Bom Jardim (R$ 1.342,03), Canindezinho (R$ 1.343,37), Conjunto Palmeiras (R$ 1.357,92) e Parque Presidente Vargas (R$ 1.381,01). “Estes estão localizados, majoritariamente, nas Regionais I, V, IX, X e XI, áreas periféricas da cidade associadas à expansão urbana desordenada e ao adensamento populacional em locais com acesso limitado a serviços públicos” – frisa o Analista de Políticas Públicas do Ipece.
Os 20 bairros de Fortaleza com menores valores do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados – 2022
POSIÇÃO NO RANKING NACIONAL
O trabalho do Ipece também apresenta os valores do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados nas 27 capitais brasileiras (incluindo Brasília). Os dados evidenciam diferenças significativas entre as cinco macrorregiões do país. As dez capitais com maiores valores da renda média das pessoas responsáveis estão localizadas exclusivamente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Tal padrão – entende Nascimento – sinaliza a existência de desigualdades regionais persistentes no Brasil, refletidas na capacidade de geração de renda da população. A concentração de maiores valores nas regiões mais industrializadas e urbanizadas contrasta com os níveis observados em áreas historicamente menos integradas às dinâmicas econômicas nacionais. Deste modo, superar essas disparidades permanece como sendo um dos desafios para o desenvolvimento equilibrado do território brasileiro.
Fortaleza deteve um rendimento médio de R$ 3.084,07, ocupando a 21ª posição no ranking nacional e sendo a 7ª entre as nove capitais do Nordeste. Cleyber Nascimento ressalta que, embora desempenhe papel relevante no contexto demográfico, urbano e econômico do país, o valor da renda média mensal dos responsáveis pelos domicílios em Fortaleza é inferior ao registrado em outras capitais nordestinas. Isso se deve, provavelmente, pela questão da forte concentração de renda na capital cearense. Ele cita que parte dessa má distribuição reflete-se espacialmente no tecido urbano, com a coexistência de realidades socioeconômicas muito distintas em áreas geograficamente próximas, o que pode contribuir para uma média geral mais baixa da renda do responsável pelos domicílios do município.
Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis com rendimentos por domicílios particulares permanentes ocupados segundo capitais – 2022
Nascimento destaca que o presente trabalho serve como uma base técnica para orientar o poder público sobre onde se localizam desafios sociais na cidade. A partir dos resultados identificados na pesquisa e de estudos complementares é possível, por exemplo, focar políticas de educação, qualificação profissional, habitação, saneamento e geração de emprego nas áreas de menor renda e que apresentem carências de infraestrutura urbana. O mapeamento territorial permite, desta forma, agir de forma mais justa e eficaz, canalizando recursos e ações para quem mais precisa.
Da elaboração do estudo também participaram Rafaela Martins, titular da Gegin, Jáder Lima, assessor de gestão da Gegin e Victor Hugo de Oliveira Silva, analista de políticas públicas da Diretoria de Estudos Sociais (Disoc) do Ipece. O estudo completo já pode ser acessado na página do ipece.
Clique aqui e acesse o IPECE Informe Nº 272 – Desigualdades Territoriais de Renda: Evidências dos Bairros de Fortaleza a Partir do Censo Demográfico 2022.
Assessoria de Comunicação do Ipece
(85) 2018-2461