Pesquisador da USP mostra como a violência causa prejuízo nas habilidades socioemocionais dos jovens

9 de julho de 2019 - 12:45

O professor/doutor em Economia da Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) Daniel Domingues dos Santos, pesquisador do eduLab21 – projeto do Instituto Ayrton Senna, que visa desenvolver e reunir pesquisas sobre políticas educacionais, afirma que a violência na juventude traz várias consequências, como, por exemplo, o impacto que ela tem sobre o rendimento escolar, sobre  evasão escolar, etc. No entanto, o que há de mais novo é que agora é possível medir por quais canais essa violência transita para afetar o desempenho dos estudantes. Isso em muito se dá através do prejuízo socioemocional dos jovens.

Daniel dos Santos garante que se o jovem de alguma forma “experimenta violência, se é vítima de violência ou simplesmente presencia violência”, com certeza vai ter repercussão no seu desenvolvimento socioemocional; de como ele vai estabelecer suas relações pessoais; a maneira como vai reagir perante situações de estresse, traumáticas. “Lá na frente vai ter consequência na sua inserção no mercado de trabalho, na relação familiar, no envolvimento com drogas, dentre outras. As vítimas são elas mesmas, que vão ser perpetradoras de violência no futuro”.

Ele abordou, na manhã de hoje (09), o tema “Efeitos da Violência sobre as Habilidades Socioemocionais dos Jovens” na 11ª edição do Fórum Ceará em Debate Ipece/Seplag, realizada no auditório do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Daniel dos Santos descreveu a maneira como programas de educação socioemocional foram, são ou podem ser desenvolvidos nas escolas. O especialista da USP observou que, nas últimas décadas, manifestou-se entre os psicólogos um consenso de que a maneira mais eficaz de analisar a personalidade humana consiste em observá-la em cinco dimensões, conhecidas como os Cinco Grandes Fatores (Big Five).

As cinco dimensões são: Abertura ao novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa, apreciação estética); Autogestão (responsabilidade, foco, persistência, organização);  Engajamento com o outro (sociabilidade, assertividade, entusiasmo); Amabilidade  (empatia, respeito, confiança no próximo, gratidão) e Resiliência/estabilidade emocional (ansiedade, tolerância à frustração, tolerância ao estresse).” As características socioemocionais são influenciadas pela família e pela comunidade, por programas realizados pela escola e pelo contexto em que ela está inserida. Estar em um entorno violento provoca uma queda, sobretudo, nos aspectos amabilidade e engajamento” – frisa.

ESTUDO EM SOBRAL

O professor Daniel dos Santos chama atenção para o crescimento dos homicídios nas regiões Norte e Nordeste ao longo dos anos, enquanto ocorreu queda no Sudeste. No Ceará, de 2006 a 2018, a taxa de homicídios – revela – cresceu 86% e Sobral seguiu a mesma tendência. O pesquisador do Instituto Ayrton Senna afirma que existe uma elevada proporção de jovens que tem ou já teve envolvimento com gangues em Sobral (33%) e que existe uma pressão de pares sobre a decisão de um jovem sobralense de entrar em uma gangue. “Excetuando pela reprovação, os jovens que possuem ou possuíram envolvimento com gangue não são diferentes dos demais em características socioeconômicas” – garante.

Outro dado citado por Daniel dos Santos no trabalho realizado em Sobral é que os jovens que possuem ou possuíram envolvimento com gangue também não apresentam um pior desempenho na prova padronizada aplicada pela Secretaria de Educação do Município. Outra constatação é que as diferenças nas habilidades socioemocionais são mais evidentes, sendo as maiores diferenças nos “construtos” de autogestão e amabilidade. A literatura – explica – mostra que existem fatores importantes de risco para envolvimento posterior em atos delinquentes, sendo alguns deles ocorrem nas famílias (negligência, maus-tratos, por exemplo).

Para ele, há evidências de que haja uma relação negativa entre ter sido vítima de agressão física e verbal em casa e algumas habilidades socioemocionais, especialmente autogestão e amabilidade. “A literatura também indica que jovens que foram vítimas de violência tendem a também serem perpetradores de violência no futuro. Assim, é possível que um fator como a vitimização explique o envolvimento dos jovens com gangues em Sobral. Os jovens que possuem envolvimento com gangues são os que mais alegam sofrer violência em casa. A mesma relação é um pouco mais fraca para a vitimização na escola”.

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